Fonte:diariodecuiaba r73c
Meus amigos, meus inimigos: Carlos Abicalil consolidou sua hegemonia sobre o PT em Mato Grosso. Domingo, com o auditório da Fiemt lotado, a corrente Construindo um Novo Brasil, que atua à direita, dentro do PT e é comandada por Abicalil, fez barba, cabelo e bigode nas correntes que estão ao centro e à sua esquerda. Quem faz parte do bloco do Abicalil, é claro, vibrou com justa razão, porque a vitória foi mesmo acachapante: eles tinham 152 dos 250 delegados no recinto. Poderiam ar o trator sobre seus adversários, mas Abicalil se mostrou condescendente, a ponto de permitir a fala de um Domingos Sávio cuja corrente, de extrema esquerda, não conseguira eleger sequer um delegado para a plenária. De olho nas urnas e nas expectativas de expressivas camadas de população, a batalha ideológica do domingo ficou por contra do trio Lúdio Cabral, Domingos Garcia e Gilney Viana que tentou se contrapor à corrente hegemônica, ressuscitando a proposta da candidatura própria do PT para o Governo do Estado proposta que a turma do Abicalil já enterrara uma vez, em 2006, na disputa pela Prefeitura. Foram vibrantes os discursos de Gilney, Lúdio e Garcia mas, por mais que exercitassem sua oratória, não conseguiram devolver vida à candidatura petista, que foi novamente sepultada, sob sete palmos de terra, sob o peso de uma plenária que há muito tempo parece ter aposentado qualquer preocupação de ordem classista para ar a depositar uma fé cega em suas lideranças de agora. E o domínio de Abicalil neste quesito, foi reforçado pela adesão algo envergonhada do grupamento comandado pela senadora Serys que também respaldou a tese de que o melhor para MT é reforçar o palanque de Dilma e a aliança nacional do PT com o PMDB. Por isso mesmo, Abicalil e seus adeptos devem ter se divertido muito neste domingo, ao esmagar a proposta da esquerda petista, tendo ao mesmo tempo a oportunidade de dar uns cascudos nas lideranças do grupo de Serys que mesmo sendo tratadas o tempo inteiro de oportunistas por Alexandre César, o pitbull de Abicalil, acabaram se aliando ao CNB naquele que pode ter sido o enterro não só de uma candidatura como também de todo um partido. Claro que não sou pitonisa, só apresento minha análise da realidade, a minha verdade. Na verdade, tudo vai depender de Abicalil. No discurso em que rebateu Gilney, Domingos e Lúdio, em tom marcial, Abicalil garantiu que a maioria petista sabe de suas responsabilidades e que jamais pensaria em arrastar o PT para o abismo eleitoral. Ele e seus parceiros apostam que, no diálogo com o PR de Maggi e com o PMDB de Silval e Bezerra saberão preservar a história do PT que, em Mato Grosso, já nos deu momentos heróicos como as campanhas de Monlevade e Ávila ao Governo, os mandatos de Serys na Assembléia, o mandato de Pignati na Câmara de Cuiabá. Aonde nos levará Abicalil? Ele quer se eleger senador, quer fazer de Ságuas federal, de Alexandre estadual, consolidando a vocação eleitoral do partido, em detrimento da organização classista. No palanque do PT, para horror de muitos petistas e simpatizantes do PT, há lugar até para o deputado José Riva, com seus processos por corrupção. Tudo por Dilma! Abicalil e sua corrente acreditam que basta se sonhar com os eflúvios que virão de uma Brasília governada por Dilma e continuadora de Lula, para que se garanta a pureza petista por essas bandas, por mais que o partido mergulhe nas rotinas de campanha dos partidos tradicionais. A esquerda defende a organização pela base, a retomada da militância mas a esquerda, pelo que se viu no domingo, mal tem pernas para conseguir 10 por cento entre aqueles que militam e comandam o PT. Serys, ao trocar o estilo de atuação que a consagrou na Assembléia e tentar se transformar em mais uma paladina de Lula em MT parece que não conseguiu substituir o paladino original que é Abicalil, sempre mais fiel a Lula e a seus interesses. De sobra, Serys se afastou da esquerda e sem Serys, Domingos Garcia mostra que só sabe mesmo discursar e não entende patavina de organização interna. Tanto que as correntes radicais só fazem murchar, enquanto que, com pragmatismo, lideranças como Abicalil se agigantam. Aonde nos levará Abicalil? Essa é a pergunta que ecoa no coração do PT. A mesma institucionalidade que, no ado, transformou o Partido Comunista em piada de salão, pode acabar transformando o PT em piada ainda mais sem graça. Com seu discurso articulado, seu apaixonado exército de seguidores (já não dá mais para falar em militantes), Abicalil pode ser fundador de uma nova era. O que se teme é que possa se transformar, simplesmente, em marionete a serviço dos patrões do agronegócio.